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O telefonema chegou a meio da noite... ela recebeu-o e nunca pensou que ao receber tal notícia o seu corpo reagisse como reagiu. Todo o corpo tremeu como se de um terramoto se tratasse, o sofá como um íman puxou-a e as lágrimas começaram a rolar como se há anos não caíssem... a pergunta seguiu-se “Estás a brincar comigo não estás?” e como não estava à espera de resposta disse de imediato “por favor, diz-me que estás a brincar!”... ele não estava... “tens que avisar as pessoas”... ela não se recorda do resto do telefonema, se é que houve um resto de conversa, deixou cair o telemóvel no sofá a seu lado e com ele o mundo também desabou.
Depois disso foi a notícia a sair-lhe dos lábios, desta vez dos dela, a fazer com que o mundo de outra pessoa caísse também. Estas notícias não têm como se dar, ou pelo menos ela não sabia como as dar assim como, percebeu mais de um ano depois, que também não há a maneira correcta de as receber.
Num momento em que o cérebro não funciona e em que a razão deixa de fazer sentido ela deu por si a querer ir ter com ele. E foi! Com a desculpa debaixo da língua de que poderia ser preciso alguma coisa, com a certeza no coração de que tinha que ver que era verdade. A polícia perguntou “É da família?” e a sua resposta foi imediata “Sim”... não era, aliás foi, aliás nunca haverá outro... há certezas que temos e esta sempre foi uma delas.
Ela continuava a tremer e as lágrimas não cessavam de rolar... durante meses as mesmas pernas tremiam quando passava de carro por lá e o motivo principal que a levou naquela noite a ir a correr para ali continuava por atingir... ainda não acreditava que era verdade.
Ainda hoje estremece quando lhe parece estar a vê-lo ao longe, ainda hoje dá por ela a recordar-se de gargalhadas conjuntas, ainda hoje chora no silêncio do quarto lágrimas que já não têm espessura nem corpo, são as lágrimas da alma...

O telefonema chegou a meio da noite e com ele a mudança de tudo o resto o que viria a seguir...