Caminho por aí...


Caminho só. Vou vagueando na floresta de prédios de cimento. Vou andando suavemente pelas ruas abandonadas de sentimento.Vejo rostos nas janelas. Não os conheço! Tenho saudades...saudades da liberdade que nunca tive. Chiu! Não quero fazer barulho! Ponho um pé atrás do outro docemente. Ohhh...reparo agora que perdi os sapatos e os pés já estão doridos. Estou cansada...não posso caminhar mais...não quero caminhar mais. Não assim...Não sozinha...A alma grita de dor. Dor pelos pés que vão descalços. As pedras parecem lâminas cortam-me as plantas dos pés. Pedras da calçada, sujas, cheias de folhas...de papel. Deixo sair uma gargalhada que me rasga por dentro...não posso gritar tenho que me rir. Chiu! Não posso fazer barulho! Se acordar alguém...fico com companhia e eu não quero...não quero...não quero caminhar sozinha. Só mais um esforço...ponho um pé atrás do outro e caminho. Vejo outras pessoas que também caminham mas em ruas paralelas...paralelas...paralelas...as ruas não se tocam...correm paralelas e deixam as pessoas caminharem por elas. Eu...faço o caminho que tenho que fazer. Faço o que esperam que eu faça. Os pés ja vão a sangrar...porque não me calcei? Seria uma caminhada tão mais simples. Dou uma gargalhada sem fazer barulho. A alma grita por um sorriso iludido mas é engolido pelos pés da vida. Caminho só! Chiu! Há alguém no fundo da rua...da minha rua...os meus olhos iluminam-se o coração bate mais rápido...há alguém no meu caminho...com uns sapatos nas mãos!

1 comentário:

  1. Por muito que acreditemos, em diversas fases da nossa vida, que os rostos só se encontram nas janelas a verem-nos passar, a verdade é que há sempre alguém que caminha na mesma rua que nós. Nem sempre à frente, nem sempre atrás, mas sempre ao lado! Esses rostos que nos acompanham são os amigos que ficam para toda uma vida, aqueles que nos ajudam a fortalecer a alma! E os que realmente importam trazem quase sempre um par de sapatos extra nas mãos para protegerem os nossos pés... mas quando não os trazem, descalçam os deles para nos facilitar o caminho!
    Obrigada pelos inúmeros pares de sapatos que me tens emprestado ao longo da nossa rua! Adoro-te amiga!! (desculpa a lamechice... hoje tive um dia mau e deu-me para isto...)

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