To be or not to be poliglota


Isto de ser uma criatura poliglota tem muito que se lhe diga.
Primeiro, é um investimento avultado. Sempre que penso nos milhares de contos/euros que já gastei nos institutos de línguas, fico doente. Particularmente quando penso na Alliance Française. Há altura em que começo a fazer contas, mas paro sempre antes de chegar ao total final. A verdade é que tenho medo que me dê algum ataque se algum dia souber que, com o dinheiro que gastei com o estudo de línguas, posso comprar um T2 com garagem e arrecadação no centro de Lisboa.
Segundo, o pessoal fica convencido que somos doidos. “Falas três línguas estrangeiras?” segue-se geralmente de uma expressão característica no olhar (aquele que se faz quando confrontado com um marciano verde e com antenas). A verdade é que as pessoas não percebem o esforço nem o gasto de dinheiro que se faz com estas coisas. Tenho ideia que se dissesse que era viciada em heroína ou era compradora compulsiva de filmes porno, o pessoal seria mais compreensivo. E agora sou só quadrilíngue, imaginem só daqui a cinco anos, quando for penta ou hexa (havemos de lá chegar…).
Terceiro, a intolerância quanto à língua alemã. Gostava de ter cinco euros por cada vez que alguém se virou para mim com ar espantado quando soube que eu estudava alemão. Se isso acontecesse, tinha os cursos de línguas pagos até aos 80 anos. Mais engraçado é quando me perguntam “mas isso serve-te para alguma coisa?” ou “precisas disso para o trabalho?”. A resposta habitual é “Aprendo alemão porque gosto da língua”. Não teria uma reacção mais horrorizada se dissesse “gosto de sexo com animais” ou “”decapito gatinhos bebés e como-lhes o fígado”.
Quarto, a persistência. Tenciono nunca deixar de aprender línguas enquanto ainda houver coisas para aprender. Será assim tão censurável?
Perguntou-me um amigo o outro dia, na sequência de eu dizer que estava um bocado saturada do alemão e se calhar ia fazer uma pausa (allô, Singapura): “Será que te sentes uma mulher realizada se não souberes pelo menos sete línguas estrangeiras?” Resposta: Não. Costumo dizer que só desisto quando souber tantas línguas quanto o Papa. A fasquia aumentou com o Rato da Singer que sabe mais duas línguas que o JP2. A verdade é que, se chegar a apanhar o nosso amigo papista, não me parece que cumpra a minha palavra.
Espero, aliás, que o nosso amigo chifrudo tenha institutos de línguas lá em baixo, perto do bairro onde me atribuírem caldeirão, porque senão vai ter uma rapariga muito insatisfeita a fazer-lhe a vida um inferno.
Quinto, a minha intolerância contra a ignorância, na vertente impossibilidade de comunicação/compreensão. Irrita-me profundamente não compreender o que dizem, mais ainda do que não ser compreendida. Imaginem a minha frustração o ano passado em Bratislava quando não se encontrava uma alminha na rua que falasse uma das línguas mais correntes. Senti-me perdida…
Dá-me consolo saber que não estou sozinha no mundo, que há outros poliglotas por aí a pensar porque são assim tão incompreendidos.
Poliglotas, uni-vos. Temos de fundar uma associação, meus amigos.
Termino dizendo que os planos para o futuro incluem, pelo menos, o russo e o árabe, tendo deixado a ideia do polaco para trás. O alemão está a tornar-se fácil demais… (brincadeirinha, ok?).
Mas sendo eu uma pessoa que adora mudar de ideias e faltando ainda muito tempo para o próximo ano lectivo, ainda podemos vir a ter novidades neste campo. Esperem mais posts linguarudos, ainda me falta dizer porque adoro alemão e porque aprendi francês apesar de detestar a generalidade dos nativos do país.

PS: Uma anedota poliglota para terminar (agora é que acabo mesmo, prometo):
Dois brasileiros são abordados na estrada por um suíço que lhes pergunta: “Do you speak english?”
Eles acenam que não com a cabeça.
O suíço pergunta então: “parlez vous français?”
Novo aceno de cabeça negativo.
Voltando à carga, pergunta novamente: “Sprechen Sie Deutsch?”
Outro aceno de cabeça negativo.
Contrariado, o suíço acaba por ir embora e diz um brasileiro para o outro: “Acho que devíamos aprender uma língua estrangeira.”
Responde-lhe o outro: “Para quê? Aquele sabia três e não lhe adiantou de nada”.

2 comentários:

  1. A juntar a tudo o que disseste, há ainda -no meu caso- a reacção de “Não achas que com a tua idade devias preocupar-te com outras coisas, como casar e ter filhos, em vez de estudar e aprender línguas?” Já agora a resposta é NÃO!!!

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  2. Olá... queria me corresponder contigo, aqui está meu MSN: mazziniconect@hotmail.com, sou outro viciado como tu es! Até mais!

    Leonardo Mazzini

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