Uma questão de tomates


Hoje vou correr o risco de vos deixar perceber como funciona o meu cérebro. Na realidade, acho que não corro um risco muito grande, porque ele é tão tortuoso, que não têm grandes hipóteses de seguir o raciocínio, mas adiante.
Um dia destes, quando ia a sair de casa, comecei a pensar que tinha bilhetes para o ballet e que já não sabia para que dia eram. Seguiu-se esta sequência de pensamentos:
“Será que vou gostar do Lago dos Cisnes? A Gata Borralheira foi um bocado aborrecido.”
“Espera, não é o Lago dos Cisnes, é o Quebra-Nozes. Raios, confundo sempre estes dois.”
“Quebra-nozes, quebra-nozes. Em inglês, Nutcracker.”
“Hehehe, nutcracker (=noz, mas em calão americano, testículos).”
“Porque lhe chamarão nozes? Parvos… Tomates faz mais sentido.”
“É pá, não faz sentido nada. Porquê tomates e nozes?”
“E os alemães chamam-lhes Eier (=ovos).”
“Porque é que só nos ocorrem nomes de comida para designar este órgão masculino?”
E entretanto veio o autocarro e quebrou-me a corrente de pensamento.
Este é um bom exemplo de pensamento em espiral produto da minha cabeça. Começa numa ponta e vai parar Deus sabe onde.
Escolhi uma corrente de pensamentos relativamente fácil para começar. Esta pelo menos vai partindo do pensamento anterior para se desenvolver, porque há alturas que vou avançando por salto, tendo os pensamentos uma ligação menos que óbvia para o médio e comum mortal.
E tudo isto acaba por servir para falarmos de tomates. Sim, alguém sabe porque é que esta parte em específico dos homens tem calão culinário em várias línguas? Se sabem, partilhem porque não estou mesmo a ver. Ou façam sugestões para ver se chegamos a uma conclusão.
E daqui, passamos para duas expressões utilizadas na língua portuguesa, cujo significado vou passar a analisar.
A primeira é “não tens tomates nem nada” e é utilizada num contexto em que alguém que não tem coragem para fazer determinada coisa. Ora, isto dá azo a confusões. Os homens têm normalmente dois tomates, mas conheço alguns frouxos (confesso que não investiguei se tinham o equipamento completo). E quem tem só um tomate, tem metade da coragem? E como é com as mulheres? Para este último caso, as minhas colegas de universidade diziam “não tens ovários nem nada”.
A segunda é “és uma mulher de tomates” e utiliza-se num contexto em que uma mulher toma uma posição de força ou mostra a sua força. Tem os mesmos inconvenientes da anterior.
E tudo isto porque a força e a coragem são características supostamente masculinas, e se as tens, tens tomates como um gajo de barba rija.
Ora, o que fazer quando não se quer ter tomates (têm de convir que tem o seu inconveniente para as mulheres) e ainda assim se quer ser uma mulher de tomates (gaja decidida e de força)? Usar um vocabulário menos machista.
Tudo isto para concluir dizendo que é preferível deixar os tomates no domínio e contexto culinário e passar a dizer as coisas como elas são. E sobretudo não ter pensamentos em cadeia sobre o assunto…

PS: Se vos pareceu que este post não fazia lá muita lógica, têm toda a razão. Foi escrito a dois tempos porque fui interrompida pela minha estagiária honorária. Eis a prova que não se deve deixar o trabalho interferir com o blog. Bolas, não torna a acontecer…

4 comentários:

  1. Sempre foi uma questão que ocupou alguma parte do meu tempo, principalmente desde que há pouco tempo um senhor me disse que eu tinha tomates. E nem vos digo a minha surpresa... é que tomates não são propriamente tremoços e a ter uns eu acho, acho que seria a primeira a dar por eles!! :)

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  2. é realmente uma questão deveras interessante...
    Não percebo a razão de os associar sempre a elementos gastronómicos... mas, certamente, devia ser um assunto investigado e estudado!!!
    Quando é utilizada da forma como a aqui a MISS expôs é uma expressão puramente machista... algo irritante... ter a coragem de um homem... mas como andam enagandos pá!!!!!!

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  3. não só os ditos "vegetais" dos homens são assim conotados, também as ditas partes das senhoras têm nomes impressionantes como "grelo"...(ai como isto soa mal) e se pensarmos na forma vulgar (quase que me atrevo a dizer ordinariamente reles) que alguns "cavalheiros" demonstram verbalmente a vontade de fazer amor/sexo com uma moçoila na famosa expressão do "comia-te toda!"..tudo faz sentido! é só juntar os ingredientes..
    agora isto do sexo forte ser o homem...sabiam que está provado que se o homem tivesse que desempenhar todas as tarefas da mulher (ser mãe, dona de casa, trabalhar fora de casa, esposa, entre outras) pura e simplesmente caía para o lado! sexo forte ãh!?

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  4. ...e primeiro foi feito o homem e da sua costela a mulher (ou coisa parecida). É coisa enraízada na nossa sociedade e mesmo para aqueles que não são católicos, em todas as relegiões o homem é o primeiro a mulher vem sempre a seguir...
    No entanto...vou lançar uma teoria...quer-me parecer que a analogia aos alimentos poderá ter sido criada por uma mulher muito inteligente para de forma metafórica subjugar os homens ao poder femenino. Senão vejamos...para eles compreenderem ao que se referem as analogias foram "condicionados" para alimentos cuja forma se assemelham aos seus (deles) testículos porque de outra forma e não tendo eles um raciocínio muito desenvolvido nunca compreenderiam...e o facto de serem alimentos susceptiveis de uma forma ou e outra serem "esborrachados" fá-los ver que até são seres MUITO vulneráveis fisicamente...LOL
    Mas se em Portugal dizemos "não tens tomates..." será que na Alemanha dizem "não tens ovos..." lol...nunca tinha pensado nisso!!!
    Não há dúvida de que os alemães estão muito à frente...pena que eu ainda não os consiga entender complectamente ;)

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