ATENÇÃO: Segue-se mais um post semi-intelectual.
No dia 3 de Novembro de 2006, Lisboa teve a visita do prémio Nobel da Literatura de 1999, Günter Grass.
Como sou uma rapariga dada à “coltura”, demonstrei enorme entusiasmo pelo facto e dirigi-me ao Goethe Institut, onde iria ter lugar uma leitura, sessão de perguntas e sessão de autógrafos.
Claro que muitos entusiastas da “coltura” estavam presentes e os portugueses estavam bem representados, o que me faz ter alguma esperança no futuro. Ou seja, não estavam apenas alemães presentes, ansiosos por ver o seu conterrâneo.
Temos lido uns artigos sobre este autor alemão nas aulas e as pessoas informadas devem saber que uma grande polémica rodeia o senhor neste momento. Estou a falar obviamente do facto deste escritor, apesar de ser um grande moralista da sociedade alemã, ter confessado na sua autobiografia que se deu como voluntário das SS (tropas de elite nazis) quando tinha 17 anos.
Confesso que nunca li nada do senhor (vou mudar isso em breve, lendo a autobiografia em alemão – ena, grande maluca), mas comecei a seguir a história da polémica por a segunda guerra mundial ser um dos assuntos que me interessa deveras.
Ora aqui temos um autor, com obra amplamente apreciada pelos mais diversos sectores, cuja opinião era ouvida com atenção pelos alemães, politicamente activo no bom sentido, bom pai de família, prémio Nobel pouco polémico quando comparado com tantos outros (ora ponham-se os olhos na Elfried Jellinek ou mesmo no Nobel deste ano, que não reuniram o consenso geral). Tudo isto deve cair só porque o senhor fez parte das SS, coisa que aliás só soubemos porque ele avançou e nos deu essa informação?
É facto bem conhecido que a Alemanha tem ainda uma relação difícil com o passado e que o Nacional-socialismo permanece um tabu para muita gente. Claro que lhes deve ter custado ver que o seu “grilo falante” também tem esqueletos no armário. O tipo que apontou o dedo a tantos outros, que condenou os jovens apoiantes nazis, afinal não tinha assim tanta moral para falar.
Mas vejamos, será mesmo assim tão condenável a conduta do homem? Quem de nós não fez burrices quando era novo e quem tem o seu armário completamente livre de esqueletos?
Sim, ele deu-se como voluntário, mas diz que nunca sequer disparou um tiro, nem participou em crimes de guerra. 1944 foi um ano excepcional, no sentido em que não era uma época normal, a Alemanha estava a perder a guerra e estava a ser atacada em duas frentes. Mas que autoridade temos nós de julgar o homem, estando confortavelmente vivendo no ano 2006, sem guerra e com o privilégio de sermos confrontados com dilemas bem menores?
Diz Grass que não falou antes por vergonha (totalmente compreensível) e por ter passado o momento certo de o fazer. Lá o saberá ele. O certo é que não é uma confissão fácil e se em 2006 causou tal celeuma, o que não teria provocado mais perto da época em questão?
Não tendo o prazer de conhecer este escritor pessoalmente, devo dizer que os relatos de quem o conhece o dão como um amigo da humanidade, preocupado com seus pares, devotado à sua família. Na noite da leitura, passou por mim e pelas minhas amigas a caminho do auditório e fez um pequeno aceno com a cabeça, dizendo Guten Abend. Não nos conhecia de lado nenhum, nem foi abordado por nós, mas teve essa atitude simpática (que além do mais me permite agora dizer “fui cumprimentada por um prémio Nobel”). Não teve comportamento de estrela nem de diva e tinha amplos motivos para sê-lo, mais do que muitas pseudo-estrelas que se armam em inatingíveis. Mesmo sem ter lido os livros, fiquei fã do senhor. E não quis deixar de marcar a deslocação a Lisboa de uma grande personalidade da literatura.
PS: Sugestões de leitura da bibliografia Grass: O Tambor (a obra seminal), O nosso Século, A Passo de Caranguejo, A Ratazana e outros que encontrarão facilmente em qualquer livraria. Vá lá, cultivem-se…
Pois... a questão q eu coloco aqui é o timming escolhido para a revelação e não a revelação em si... tinha 17 anos alistou-se (muitos outros com a mesma idade não o fizeram mas ok)... a questão é mmo estes 60 anos de espera... e 60 anos de critica a quem fez o que ele fez...
ResponderEliminarTambém ainda não li nada do Grass... os excertos da auto-biografia (em português q eu não sou uma g'anda maluca) parecem mt interessantes... mas em breve vou ler o passo de caranguejo q comprei neste evento (o único q havia em português).
ja tinhamos falado sobre este acontecimento e sobre o senhor em si o que me deixou também com vontade de conhecer a sua obra, mas para já com o meu rebento as minhas leituras passam quase exclusivamente por livros sobre crianças, sim, porque estes pequenos seres não trazem livros de instruções e o instinto maternal por vezes não é suficiente para os descodificar...por isso e já que falamos de livros deixo uma sugestão para os papás que visitam este blog,.. T. Berry Brazelton, pediatra, autor de várias publicações sobre a criança, muito bom!
ResponderEliminarPois... todos temos “esqueletos no armário”... e quem não tem que atire a primeira pedra!
ResponderEliminarE já agora... quem somos nós para criticar o GG?!... Se calhar, alguns de nós têm “esqueletos” muito podres e passeiam-se por aí sem mancha de pecado!... Oh yeah!...
PS: Eu já li “O Meu Século” (em português!) e gostei... mas não sou uma conhecdeora da obra do GG.