Coisas estúpidas que se dizem às pessoas que têm uma doença grave

Depois do post um bocado parvo de ontem, achei que hoje devia pôr ordem no curral e falar de coisas um bocado mais sérias. Mas não tratadas com total seriedade, claro, senão era uma seca e vocês passavam a ler outras coisas ou mesmo a trabalhar e isso é que era uma verdadeira tragédia…
Tendo dois familiares com cancro, um deles sendo o meu pai, achei que me devia debruçar sobre um assunto que me tem chamado à atenção ultimamente: coisas estúpidas que se dizem às pessoas que têm uma doença grave.
Claro que este problema não chegou ao meu conhecimento quando os problemas me bateram à porta, já me tinha dado conta que certas pessoas tendem a abrir a boca só para dizer asneiras. Passo a dar um exemplo: lembram-se do Cherbakov, jogador do Sporting que teve um acidente automóvel grave e ficou numa cadeira de rodas? No jogo de homenagem ao rapaz, houve um jornalista que achou por bem fazer a seguinte pergunta: “Não gostava de estar lá em baixo a jogar?” Não me lembro da resposta, mas se fosse eu na mesma situação, teria respondido algo do calibre: “Népia, prefiro muito mais estar aqui sentado numa cadeira de rodas, a falar com um cretino como tu.”
Ora aqui fica uma lista não exaustiva de parvoíces que se ouvem nestas alturas, verdadeiras pérolas. Estão autorizados a rir-se, mas aviso ao pessoal facilmente susceptível, a partir deste momento, é possível que fiquem chocados com o que vou dizer:
Um vizinho (velho caquéctico para aí com 80 anos), ao encontrar o meu pai na rua, após este ter perdido cerca de 30 quilos: Como o senhor está… A minha mulher disse-me que já o tinha visto e que metia dó. Olhe, faça como eu, levante as mãozinhas para o céu e peça a Deus que o leve;
Quando a minha tia disse a uma amiga que lhe tinham aparecido metástases no fígado, obteve esta resposta: ah, agora é que não te safas mesmo;
Uma colega do alemão ligou-me às 7h30 da manhã de uma segunda-feira dizendo: “Como o meu primo morreu de cancro, estava a ligar-te para saber como está o teu pai…”
Várias pessoas ao saberem que o meu pai teria de fazer quimioterapia: Isso é tão mau, ouvi dizer que às vezes mata…;
Várias pessoas ao saberem que o meu pai tinha cancro do estômago: isso não é fatal? Ou a outra versão: Isso não é dos piores que se pode ter? ;
Uma pessoa por outra: quanto tempo tem ele de vida?
E finalmente a minha preferida, mãe que diz à filha grávida: Não beijes a fulana que ela anda a fazer quimioterapia e pode provocar malformações no teu bebé…
Confesso que, ao início, ficava muito revoltada com isto. A mim, parecia-me puro bom senso dar força às pessoas nestas circunstâncias, contar os casos das pessoas que se safam e ser optimista. Pelos vistos, nem toda a gente pensa da mesma maneira…
Hoje em dia, colocada perante uma situação destas, opto por responder à letra, mas com um sorriso nos lábios. E rir-me um bocado para desmistificar a coisa. Porque, em suma, life is too short…
Para aqueles que ficaram chocados, a culpa é da Kruella, ela é que achou que uma destas historietas (a do velho caquéctico) era de morrer a rir. Acho até que foi por isso que teve a ideia de me convidar para este blog. Por isso, há males que vêm por bem… Dependendo do ponto de vista…

PS: Para o pessoal que ficou um bocado em baixo e pensa não regressar a este blog devido à depressão que lhes provoquei, aviso que voltarei já no próximo post às parvoíces. Bem-haja.