Bruxinhas e Bruxinhos, hoje é o vosso dia.
Eis uma festa que me diz muito e infelizmente não é celebrada à séria no nosso Portugalito. Haverá melhor que andar mascarado a pregar sustos às pessoas, à cata de guloseimas?
Para os velhos do Restelo que defendem que isto é uma americanice, mais uma coisa para gastar dinheiro e que não tem nada a ver com a nossa tradição, digo-vos que estão enganados, pelo menos em parte.
O argumento de gastar dinheiro até poderá estar certo, mas como dizia um certo economista cujo nome agora me escapa, não há almoços grátis, por isso, nada sendo à borla hoje em dia, porque haveria isto de ser?
Está certo que os americanos lhe deram a forma actual e criaram este hábito, mas a ocasião é antiga e celebrada de uma maneira ou outra em quase todas as culturas ocidentais.
Para aqueles que estão a abanar a cabeça, insistindo que nada tem a ver connosco, pergunto: que dia se celebra amanhã e qual é a nossa tradição? Pois é… Amanhã é o Dia de Todos os Santos e em Portugal há o costume de visitar os cemitérios e enfeitar as campas. Que ligação tem com o dia das bruxas? A morte. Sim, os putos podem mascarar-se do que quiserem, mas preferem sempre criaturas macabras como fantasmas, vampiros e bruxas.
E porque é que celebramos o Dia de Todos os Santos a 1 de Novembro? Devido a um hábito da Igreja Católica de se apropriar de todas as festas pagãs, atribuindo-lhes um significado católico, de modo a não privar o pessoal das festanças (A povo dai pão e circo, já se dizia em Roma antiga e com toda a razão). No caso é o Samhain, festa pagã que marca o fim do Verão e a “morte” de Deus, que depois ressuscita na Primavera. Antigamente, acendiam-se umas fogueiras e dançava-se à volta. Havia quem usasse pouca roupa ao fazê-lo ou quem fizesse outras coisas, além de dançar… Para quem queira honrar a tradição, e ainda há quem o faça no Reino Unido, aconselho a não fazer isto ao relento e sem roupa, senão ainda se constipam. Mas deixo ao vosso critério, uma vez que cada um festeja como quer e pode…
Noutras culturas, diz-se que é a noite onde os espíritos e demónios andam à solta. Também se celebra às vezes noutra data, 30 de Abril, em honra de um Santo com um nome macaco, Walpurgis. Polémicas à parte, para mim não há inconveniente em espíritos, demónios, bruxas e afins andarem a laurear a pevide duas vezes por ano. Enfim, nunca se poderá dizer que os gajos saem muito…
Claro que, no bom espírito português e católico em geral, a nossa “festa” tinha de ser melancólica, sofredora e deprimente, ao contrário da contraparte anglo-saxónica. Deus nos livre de nos divertirmos um bocado, senão ainda vamos parar ao inferno. Claro que para mim, isto é muito relativo, porque sendo advogada, já vou automaticamente para o inferno (mas para um círculo superior aos jornalistas, vendedores de carros e afins).
Isto ficou um bocado mais educativo do que o pretendido, mas têm de concordar que é simpático aprender qualquer coisa nova de vez em quando.
Sendo esta a última festa antes do Natalito, para mim evento bem mais deprimente e triste que este, toca a festejá-lo, nem que seja discretamente.
Bruxinhas e Bruxinhos, bom dia das bruxas, Happy Halloween e não façam nada que eu não fizesse… (não, por acaso dançar nua à volta de uma fogueira não está nos planos de hoje, contento-me em ver os filmes de terror que dêem na televisão).
PS: Se a tradição for o que era, dá no TCM o “Por favor não me mordam no pescoço” do Roman Polanski. É terror com comédia, muito giro e a não perder se ainda não tiverem visto.
PPS: Talvez haja esperança que o conceito pegue por cá, já que hoje vi na rua uma criancinha vestida de bruxa. Não, não é da minha família e não tive nada a ver com isso… Eu lá era capaz de coagir alguém dessa maneira…